7 de Março

retirada da net

Porque às vezes é importante recordar, mesmo que essa recordação nos encha de uma certa mágoa.

Por outro lado, também não é fácil esquecer, quando o percurso da nossa vida nos leva a voltar ao local onde tudo aconteceu...

E acredita que passar por aqui, tantas vezes, não tem sido fácil, nada fácil...

1 de Março, outra vez...

E às vezes, do que mais sinto falta é disto...


1 de Março

Não sou de sonhar... Nunca gostei muito...
Prefiro imaginar... de olhos bem abertos... o que não deixa de ser sonhar!

Dizem os entendidos que sonhar toda a gente sonha... apenas não se recorda quando acorda.
Deve ser esse o meu caso...

Não gosto de sonhar... mas existem coisas que não podemos controlar... e assim, inexplicavelmente, tenho sonhado muito nestes últimos dias...

Sonhado com coisas que preferia esquecer, que preferia manter bem no fundo do baú das recordações. Apagar de vez? Penso que não, pois como poderia saber que teria sido realidade?

Mas porquê estes sonhos? Porquê agora, quando tanto tempo já passou? Porquê contigo? E porque será que isto está a mexer tanto comigo...

9 de Janeiro

BALADA DA NEVE


Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.
É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...
Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.
Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...
E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...
Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.


Augusto Gil

10 de Junho

14 de Fevereiro ou 1 de Março

Há coisas que começam e não têm fim!

Há coisas que começam e terminam muito ou pouco tempo depois!

Há coisas que nunca deveriam ter começado...

11 de Janeiro


Encontrei uma preta
que estava a chorar
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhai-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

"Lágrima de Preta", António Gedeão